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domingo, 7 de agosto de 2011

Satélites caçadores de água

Recheados com instrumentos de altíssima precisão, equipamentos mandam do espaço informações que ajudam a encontrar aquíferos subterrâneos e saber quando vai chover em áreas vizinhas a desertos
Larissa Veloso

 SONDA
Espalhado em dois satélites, o sistema Grace acha até água subterrânea


Pouco importa onde a água se esconda. Soterrada ou invisível, ela é encontrada por poderosos satélites ou por um conjunto deles. A centenas de quilômetros da superfície terrestre, equipamentos desenvolvidos pelos Estados Unidos e pela Europa abrigam instrumentos tão precisos que podem ver mudanças milimétricas nos níveis do líquido precioso. Mesmo quando ele está debaixo da terra.

Um desses instrumentos é o sistema Grace (sigla em inglês para Registro de Gravidade e Experimento Climático), desenvolvido pela Nasa e pela DLR, a agência espacial alemã. Seus dispositivos conseguem detectar finas mudanças no volume de água dos mais variados reservatórios. Depois de descontar as alterações que ocorrem por fatores naturais, os cientistas sabem exatamente qual foi a quantidade de líquido usada pelo homem. E podem fazer alertas sobre seu uso.

É possível estimar a variação de áreas de até 200 mil km² com a precisão de 1,5 cm. “Aplicamos o método em muitos dos maiores aquíferos do mundo, como o do Central Valley, na Califórnia, que vem diminuindo 1 km³ a cada quatro meses”, afirma o diretor do Centro de Modelagem Hídrica da Universidade da Califórnia e responsável pelo projeto, Jay Famiglietti. Ele também cita o caso de um grande sistema aquífero no noroeste da Índia, que perde 18 km³ por ano, o equivalente a sete milhões de piscinas olímpicas.

À ESPERA DA CHUVA
Os satélites determinam qual é a hora certa de
plantar na região do Sahel, ao sul do Saara

Além de detectar o esgotamento de reservas subterrâneas de água, por meio do sistema de satélites Grace, os cientistas estão conseguindo monitorar o derretimento das geleiras do Alasca e da Patagônia. A intenção é que, no futuro, o equipamento também ajude a minimizar tragédias. “Vamos nos concentrar na integração dos dados com modelos climáticos para poder prever a disponibilidade de água. Além disso, a ideia é poder antever grandes enchentes sazonais, como as que ocorrem no Paquistão e na bacia do rio Mississippi”, detalha Famiglietti.

Em termos de ajuda a áreas que sofrem com a falta ou o excesso de água, um outro estudo, desenvolvido pelo Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido, é inovador. Usando dados da rede de satélites Meteosat, da Organização Europeia para a Exploração de Satélites Meteorológicos, pesquisadores descobriram um modo para prever as fortes tempestades que se formam na área ao sul do deserto do Saara e duram até dois dias. “Descobrimos que, onde há uma combinação de áreas de solo seco e úmido, as novas chuvas têm duas vezes mais propensão de ocorrer. Isso porque essa combinação de taxas de umidade gera diferenças na temperatura do ar, o que por sua vez provoca um fenômeno semelhante à brisa marinha”, explica o responsável pela pesquisa, o meteorologista Christopher Taylor.

A região estudada, conhecida como Sahel, engloba países como Nigéria, Sudão e Etiópia, nações com baixos níveis de desenvolvimento humano, nas quais uma boa colheita pode ser a diferença entre a vida e a morte. Os estudos, desenvolvidos em conjunto pela Grã-Bretanha, França e Austrália, podem ajudar a determinar a hora certa para plantar. Depois de garantir as comunicações ao redor do planeta, chegou a hora de os satélites matar a sede de animais e vegetais que vivem por aqui.


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