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segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Esta prisão já não me detém



Assim como, através de estreita janela,
Contemplamos uma única folha verde, de uma parte do vasto céu azul,
Assim também comecei a Te perceber, no começo de todas as coisas.
E, como a folha se descoloriu e murchou,
E de escura nuvem a nesga celeste se encobriu,
Assim também Tu esmaeceste e desaparecestes,
Para renascer outra vez,
Como aquela folha verde e o reduzido espaço de céu azul.

Por muitas vidas vi passar o frígido inverno e a verde primavera.
Aprisionado em meu pequeno quarto,
Eu não via a árvore inteira e todo o céu,
E jurava que não existia a árvore e nem o vasto céu
- Para mim, era aquela a Verdade.

Através do tempo e da destruição,
Minha janela se expandiu.
E contemplei então
Um ramo com muitas folhas,
E uma vasta expansão do céu, com muitas nuvens.

Esqueci a folha verde solitária e aquele pequeno espaço da imensidão azul.
Jurava que não existia a árvore, nem o céu imenso
- Para mim, era aquela a Verdade.

Cansado desta prisão,
Da estreita cela,
Revoltei-me contra minha janela,
Com os dedos a sangrar,
Arranquei tijolo após tijolo,
E contemplei então
A árvore inteira, seu tronco majestoso,
Seus ramos numerosos, suas miríades de folhas,
E uma imensa parte do céu.
Jurava que não existia outra árvore, nem outra nem outra parte do céu
- Era aquela a Verdade.

Esta prisão já não me retém,
Saí a voar através da janela.
Ó amigo,
Agora contemplo todas as árvores e a vastidão do infinito.
E embora eu viva em cada folha e em cada nesga do vasto céu azul,
Embora eu viva em cada prisão a espreitar por estreitas frestas,
Sou livre.
Não! Nada mais me prenderá
- ESTA é a Verdade.

Krishnamurti - A Busca


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