"A luz que nos guiará na escuridão emergirá do nosso interior"
Vivemos tempos decisivos nos quais cada indivíduo está confirmando internamente o seu destino. Sabemos que a cada um está reservada a sua morada.
Como pode uma árvore nascer em lugar que não seja aquele onde a semente está plantada? Como pode um peixe viver fora da água? Como podem os homens respirar sem o ar?
Se uma flor das altas montanhas for levada às areias da praia, certamente morrerá. Ao cacto foi dado o sol do deserto; ao lótus, a água dos pântanos. A Sabedoria entrega o céu aos pássaros e a terra aos lagartos, o perfume às flores e o sabor aos frutos. Para cada coisa, o seu lugar; e mesmo sendo todos uma mesma Vida, nada se mistura.
Quando um ser, em seus momentos facultativos, decide obedecer à Vontade Suprema que habita em seu interior, mesmo que ele não veja claro e conscientemente e nada saiba do que deve fazer, será conduzido na direção correta. Isso é uma Lei.
Na maioria das vezes o aspirante é mais facilmente levado pelo caminho correto quando desconhece o que está pela frente. Em geral, observa-se que a elevada carga de material retrógrado que ele carrega nos corpos coloca grandes obstáculos quando os passos a serem dados são revelados desde o princípio.
Mas de qualquer forma a decisão é fundamental. Sem essa ferramenta, própria daqueles que têm em si desenvolvida a energia da vontade-poder, os impulsos superiores não encontram no ser um canal de manifestação que resista aos ataques das forças involutivas.
A intenção é apenas o início do caminhar. Somente quando ela está madura pode se transformar em decisão, e isso acontece com a vivência do desapego. O desapego é o calor do Sol que amadurece o fruto da intenção, tornando-o robustecido para, sob a forma de decisão, desprender-se da árvore e prosseguir manifestando a vida, pois é a decisão que traz em si as sementes da etapa seguinte.
Apenas quando o homem estiver desapegado de si mesmo, de seu ilusório e venerado "eu", poderá referir-se a ele à vontade, assim como fala de um objeto qualquer - sem afetação e com simplicidade.
Sem nada ver, sem nada saber e sem nada ter que confirme a Existência, poderá, em verdade, vir a ser algo do que deveria haver sido no princípio.
Que o ser abrace a escuridão como prenúncio da luz. Que há de pedir se não pode saber que espada cortará os céus das escuras noites, trazendo-lhes o raiar do novo dia?
A vida humana, da qual tantos se vangloriam e se apegam, é um pesado tributo que os homens estão pagando por suas escolhas. O cárcere de uma existência identificada com as formas é a dura sentença que a própria humanidade ditou para si. Aqueles que já foram tocados pela vida interna sabem que não há poço mais seco do que a vida restrita aos limites materiais; e até mesmo os que se recusam a ver a necessidade de uma coligação superior não têm como negar que um corpo sem espírito é um objeto morto, inerte.
Ao conscientizar-se da vida interior, onde também se encontram a vida universal e a vida cósmica, o indivíduo reconhece a dádiva que está em suas mãos; e quanto mais se torna um instrumento desse sublime poder criativo, menos se deixa conduzir segundo parâmetros humanos e mais se aproxima da obediência ao impulso interior.
O emotivo usa o último gole d'água para regar a planta que está secando. O sábio utiliza-o com parcimônia, até encontrar a fonte que pode saciar a ambos.
Trigueirinho
Palestras do autor poderão ser ouvidas, gratuitamente, no site www.irdin.org.br
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