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terça-feira, 5 de abril de 2011

O que eu quero?


por Radha Burnier
(The Theosophist, Outubro, 1984)

Teósofos sérios deveriam fazer-se, não uma mas muitas vezes, a pergunta: “O que é que eu realmente quero?” A ênfase, no entanto, não deve estar no “eu quero”. A pergunta deveria auxiliar-nos a descobrir o que é que a natureza mais íntima busca.

Em todo homem há alguma coisa profundamente interior que está tentando expandir-se e brilhar em todo seu esplendor. Se a pergunta é respondida no nível superficial, essa expansão não será auxiliada. È demasiado fácil dar as respostas esperadas. As pessoas às vezes dizem: “eu quero servir a humanidade”. E muito fácil dizer isto em palavras e até mesmo pensar; tanto a palavra como o pensamento são superficiais. É a resposta pronta, a coisa certa a dizer, que se segue à pergunta, devido a um certo condicionamento Teosófico que o apresenta como desejável. Porque é coisa aceita acreditar que a Luz e a Verdade são mais importantes do que meras coisas mundanas, a resposta aprovada é rapidamente produzida a partir de uma camada superficial da mente. É fácil dar essas respostas rápidas e fáceis, mas a resposta que vem de uma parte superficial de nós mesmos não é suficiente. Nós devemos, na verdade, pôr de lado as respostas que vêm da língua e da mente e buscar por outras no coração. De um estado de absoluta quietude – que surge quando o pensamento e a palavra são ambos postos de lado – que resposta o coração dá à pergunta?

Pois é possível pôr de lado todas as respostas externas e buscar profundamente em si mesmo, onde há um voltar-se em direção à verdade. Se não pudermos nos preocupar em fazer isso, como podemos alegar sermos Teósofos? Estamos na Sociedade meramente para indulgir em alguma atividade exterior que é momentaneamente satisfatória? È fácil demais satisfazer-nos com a atividade, com o trabalho em algum departamento, com o escrever, comparecer a reuniões e assim por diante. Mas tal atividade não é suficiente para tornar alguém um Teósofo. A pergunta crucial é: em meio a toda minha atividade, onde estou centrado?; qual é minha condição interior enquanto atuo, falo, penso? Afinal, há uma vida interna ou minha atividade é iniciada e dirigida desde a camada superficial de meu cérebro? Para tornar-se cônscio do ímpeto interior, dar a si mesmo à verdade, é necessário fazer uma pausa em meio às atividades, não uma mas muitas vezes. Depois que a atividade exterior termina, a pequena tagarelice do cérebro continua. Deve-se ir além disso também, até a natureza interior. Se se falhar aqui, não se é realmente capaz de fazer o trabalho Teosófico do ponto de vista daquelas grandes forças que dirigem o destino do homem rumo ao Bem.

Aqueles que não estão afinados com as forças que auxiliam a marcha progressiva da humanidade não podem fazer um trabalho de valor, embora possam estar infinitamente ativos. Somente aqueles que estão afinados saberão infalivelmente qual a coisa certa a fazer. A reta ação pode vir somente através do reto sentimento, não do pensamento apenas, pois ela não é o simples fazer uma tarefa particular – dar uma palestra ou escrever um livro – mas está relacionada com cada detalhe de nossa vida diária. Por exemplo, há um reto modo de falar com outra pessoa e também de pensar sobre ela. Na verdade, há um reto modo de encarar cada evento que confrontamos em nosso viver diário.

Como podemos fazer isto sem um reto sentimento? O homem perfeito possui o reto sentimento um grau supremo porque ele é uno com a vida; nele, não há um eu pessoal. E é a partir deste estado de unidade que ele atua. Mas a pessoa menos evoluída não pode agir retamente porque ela está isolada em sua egoidade.

Um Teósofo deve examinar a si mesmo para ver o quanto ele se apartou dos outros interiormente, se sua atividade mental o enclausurou no auto-interesse. Muito freqüentemente ele pensa: “eu quero trabalhar pela verdade” ou “estou fazendo progresso no conhecimento teosófico”. Isto é meramente uma noção auto-consciente que apressa o processo de isolamento.

É igualmente fácil tomar por engano um sentimento de emocionalismo como sendo a resposta do coração. Mas isto não é o que se pretende dizer por “coração”. Por “coração” devemos entender Buddhi ou a percepção superior.

Dessa forma, embora a resposta à pergunta “O que é que eu realmente quero?” possa parecer bastante simples, devemos buscar por ela muitas vezes no coração. Quando a luz, a verdade, o bem, são encontrados na profundeza de nós mesmos, nossas ações e relacionamentos se transformam. Coisas que uma vez nos perturbaram cessam de ter importância e desaparecem em segundo plano. Mesmo quando algumas fantasias, desejos, atrações, permanecem – atrás delas há ainda a busca da luz.

A fim de encontrar o centro interior, de chegar um pouco mais perto da Realidade, é necessário afastar-se das preocupações diárias. Muitas pessoas sentem-se renovadas numa convenção ou conferência porque ela por um tempo, puseram de lado suas pequenas tarefas, deveres e responsabilidades diárias; foram capazes de pôr “eles mesmos” de lado. Podemos ser afortunados o suficiente para caminhar num lugar quieto e arborizado, onde possamos olhar para as árvores e pássaros e escutar o silêncio; quando estamos longe do mundo e de seu tumulto, há um senso de paz e de uma dimensão diferente. O tempo também nos leva para longe e nos mostra a irrealidade e a relativa não-importância da maioria dos eventos. Podemos olhar para trás, para os pequenos incidentes que nos perturbaram na ocasião, os mal-entendidos com outras pessoas, e ver sua insignificância.

Tal distanciamento de nós mesmos no tempo e no espaço é necessário para alcançarmos o coração e o centro interior, para descobrirmos como agir e o que é que realmente queremos fazer. Um tal não-envolvimento não é apático ou insensível, mas um desapego necessário; sem ele, não podemos ver nosso caminho ou agir retamente. Se olhamos a vida com este “senso de distância”, podemos ver muito mais do quadro total. Quando um quadro nos dá um sendo de beleza, é porque ele é o quadro inteiro; um canto limitado do quadro não pode dar-nos o significado total. Naturalmente, o quadro completo é feito de todas as suas partes; se as partes fosse totalmente sem sentido, o todo também seria sem sentido. Cada pequena parte é significativa apenas como parte do todo, mas isolada do todo ela não possui nenhum significado. Na música, também, uma nota por si mesma ou mesmo um acorde isolado não pode inspirar ou elevar; no entanto, se a nota está errada ou o acorde fora de lugar, a música é estragada.

Tudo na vida, portanto, é significativo, mas é significativo apenas como parte da vida total, não por si mesmo. É essencial ver as coisas em perspectiva, como parte do movimento da vida, as sem sermos capazes de desapegar-nos não podemos fazê-lo. Não podemos ver o todo se damos toa a nossa atenção a um incidente isolado, se damos importância a todas as pequenas palavras que nos são ditas, a cada acontecimento trivial. Quanto mais a mente se isola dos outros, mais importante ela se sente e mais sem sentido ela se torna. Somente quando o coração vê e sabe-se estar em relação com tudo o que existe é que ele se torna capaz de agir retamente.

A literatura Teosófica nos impele a estudar o eu inferior à luz do Superior. O que é essa “luz do Superior”? Freqüentemente, uma parte da mente inferior olha para outra parte e imagina que ela é o Eu Superior. Cada parte da mente é o eu inferior. Assim, quando a mente olha a si mesma e tenta endireitar-se, nenhuma mudança pode jamais ocorrer. A transformação ocorre somente quando há uma observação do que está acontecendo por um nível diferente – isto é, por Buddhi. Isto é apenas um nome, pois não sabemos o que é o Buddhi. Mas quando a mente está quieta e há alguma coisa sem nome observando, então chegamos mais perto da verdadeira compreensão.

Nesse processo é importante não se buscar auto-suficiência, pois é o desejo de suficiência que faz um homem se agarrar ao conhecimento, ler mais e mais livros, acumular fatos, que parecem dar a ele uma posição e um senso de segurança. Mas deve chegar um tempo em que ele compreende que apesar de todo esse conhecimento e informação uma pessoa é exatamente aquilo que ela é. Vendo isto, há uma compreensão da inadequabilidade da mente, do conhecimento, de seus modos de ação. E então a pessoa diz: “eu não sei”; ela aprende a humildade, que é quando o coração começa a falar, porque a mente não encontra a resposta.

A Teosofia é sabedoria, não é conhecimento. Mas o futuro Teósofo deve também estar preocupado com o conhecimento porque o conhecimento conceitual tem alguma importância na vida dos seres humanos. O conhecimento pode impedir uma pessoa de entrar em contato com a realidade, com a beleza e o significado da vida, se ele é compartimentalizado, mantido numa estante, não relacionado com os problemas do indivíduo bem como da humanidade como um todo. Há um vasto número de pessoas em todo o mundo – físicos, engenheiros e outros – que estão unicamente ocupados em adquirir conhecimento a fim de aperfeiçoar as armas mortais com as quais a maioria dos países são equipados. Alguns desses cientistas são pessoas brilhantes, com um intelecto, e contudo suas vidas são gastas apenas em descobrir os meios pelos quais os políticos possam destruir outras pessoas e o ambiente. Este é um conhecimento de um tipo que não está preocupado com o bem-estar e progresso da humanidade. Similarmente, nas áreas religiosas, políticas e outras, as pessoas estão adquirindo conhecimento que não possui conexão com o bem-estar da humanidade. Ou se ele tem uma aplicação de algum tipo, eles não se importam que efeito essa aplicação tem sobre as pessoas e outras formas de vida.

Há também o conhecimento que altera o modo de pensar da pessoa, quer para melhor, quer para pior. Nos países orientais, as pessoas têm um conhecimento teórico da reencarnação. Ela tem sido o pano de fundo de seu pensamento por gerações. Porque elas sentem que haverá vida após vida para agir, elas muito facilmente caem na indiferença e na inércia. A letargia e negligência que são características de algumas delas são parcialmente devidas a esta formação conceitual. Esta pode ter sido a razão pela qual, embora nos seus primórdios o Cristianismo aceitasse a verdade da reencarnação, mais tarde ele deliberadamente decidiu não ensiná-la, devido a seu efeito negativo em muitos.

Já o oposto é verdadeiro em países onde há o conceito de uma única vida na qual tudo deve ser alcançado. As pessoas tentam desesperadamente fazer tudo naquela única vida, quer seja ganhar dinheiro ou divertir-se. O modo de viver competitivo, de alta pressão, que é o sintoma do mundo moderno, provém desta idéia. Assim, há desvantagens em ambas as visões. Por um lado, há materialismo, competição, agressão, o desejo de elevar-se ao ponto mais alto, de ser bem-sucedido, e, por outro lado, apatia, indiferença, má vontade em esforçar-se, o falar sobre as coisas sem se fazer nada. Esses dois diferentes modos de viver surgem de dois diferentes conjuntos de conceitos. Conceitos , portanto, são importantes; não podemos absolver-nos da necessidade de aprender a pensar corretamente, a ver o universo corretamente. Mas se deve ter constantemente em mente que nossos conceitos podem estar errados e que, de qualquer forma, todos os conceitos são enormemente limitados e o que nós compreendemos ao nível do pensamento não é a realização da verdade, pois o pensamento e o conceito podem estar completamente divorciados da vida e dos relacionamentos. Assim, não devemos estar satisfeitos com o pensamento nem devemos rejeitar o reto pensar.

Nós todos sabemos que a sabedoria é diferente do conhecimento e dos processos do pensamento. O pensamento pode influenciar o que fazemos numa ocasião particular, mas a sabedoria produz uma transformação radical em nossa vida inteira. Ela nos traz a uma profundidade onde não há mudança. E se agimos a partir dessa profundidade, tudo é correto. Portanto, num certo sentido, a reta ação não tem nada a ver com circunstâncias. Quando calculamos os prós e os contras e pesamos suas possíveis conseqüências, a ação que podemos tomar pode ser errada ou pode ser correta. A ação infalível surge somente da profundeza em nós mesmos onde a verdade pode ser descoberta.

Nós tentamos compreender o homem e o universo através de nossos estudos, investigação e através da discussão com mente aberta, não nos agarrando com muita certeza ao nosso conhecimento, sempre compreendendo nossas limitações. Mas é imensamente mais importante viver retamente e com isso trazer alguma coisa para o mundo, o que não podemos fazer através de nenhum tipo de ensinamento verbal, através da mera propagação de conceitos. Se cada um de nós é um estudante da sabedoria que está a cada dia tentando transformar sua vida através de uma maior compreensão, suas palavras terão em si o brilho da sabedoria.

Um comentário:

  1. Ola! Sô...excelente postagem, TEOSOFIA - Sabedoria Divina - não sou de nenhuma religião, embora como a maioria de nós, fomos educados Católicos, outros protestantes etc. Sempre tive comigo que ser ou pertencer a alguma religião é limitar-se aquilo, tal como quem faz parte de um partido político, onde o meu é melhor que o seu, e nunca aceitei isso, mas a Teosofia, fundada por Mdm.Blavatsky, não é uma religião como muita gente pensa, mas a junção da Sabedoria Divina, estou tentando justificar o injustificável, como bem diz o texto, mas é só uma divagação sobre o preceito Teosófico postado, de grande importância, Arcanjo Anael falou e esclareceu exatamente o ai dito no texto, e assim é, o fim é o mesmo o Um, e temos de tomar consciência disso, esta ai, esta sendo dito com palavras claras e objetivas, espero entendam, isso é importante a todos nós, é a LIBERTAÇÃO DA MATRIZ, do limite, É SER em SI, o caminho que esta sendo iluminado pelas mensagens, muitos são, mas esse de ABANDONAR-SE A LUZ esta sendo insistentemente iluminado.
    E a Teosofia a tempos o mostra.

    Desculpe se me alonguei no comentário, mas o texto é inspirador e esclarecedor.

    Amor e Luz

    Namastê.

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