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segunda-feira, 28 de março de 2016

Pai Nosso



Uma Interpretação Universalista Dessa Prece Cristã

 por Carlos Cardoso Aveline

Assim como os livros sagrados de outras religiões, as escrituras judaico-cristãs trazem em si, em forma velada, inúmeros ensinamentos da sabedoria eterna e esotérica. Vejamos um exemplo prático.

No Evangelho segundo Mateus, 6: 9-13, encontramos o Pai Nosso [1]. Trata-se de uma das orações mais famosas e recitadas do mundo. Infelizmente, ela é muitas vezes repetida de modo mecânico e dogmático. Assim, ela nem sempre ajuda de fato o despertar espiritual dos devotos.

É preciso olhar cada trecho de uma grande escritura a partir da compreensão do Todo Universal, para que se compreenda verdadeiramente o trecho em questão.

Uma vez conhecidas algumas chaves de interpretação da tradição cristã, o estudante percebe a mensagem transcendente implícita em vários textos, inclusive o Pai Nosso. Então esta oração deixa de ser obscura ou monótona. Ela ganha um significado universal que é profundamente místico, mas também tem um efeito libertador e estimulante no plano racional e intelectual, e ensina ao peregrino que ele deve libertar a si mesmo ao invés de esperar por alguma salvação externa.

Há pouco mais de um século, Helena P. Blavatsky publicou uma interpretação teosófica do Pai Nosso em seu jornal mensal “The Theosophist”. Hoje quase esquecida, a versão esotérica desta oração faz parte de um texto raro intitulado “Christian Mysticism”, escrito pelo místico alemão Barão von Ekartshausen e publicado em duas partes, nas edições de fevereiro e março de 1885 da publicação. [2]

Diz a oração interpretada, que traduzo - adaptando algumas expressões - diretamente do “Theosophist” de H.P.B.:




O “Pai Nosso” do Iluminado

Pai Nosso ― (Supremo princípio criativo, fonte original de toda existência;)

Que estás nos céus, ― (pois vives nos planos superiores de consciência;)

Santificado seja o teu Nome; ― (possamos nós tratar-te com o devido respeito e com a devida impessoalidade;)

Venha o teu Reino; ― (que nossos desejos e atividades sejam tais que tu como princípio supremo possas manifestar-te plenamente;

Seja feita a tua Vontade ― (em nossa consciência e através de nós,) ―

Assim na Terra como no Céu; ― (no universo visível assim como no universo invisível;)

O pão nosso de cada dia nos dá hoje: ― (a cada dia que passa, nós bebemos da fonte da vida e temos novas oportunidades de obter conhecimento;)

E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos nossos devedores ― (pois lutamos para libertar-nos das nossas imperfeições e para ajudar os outros a que se libertem do mesmo modo, porque na medida em que ajudamos os outros, elevamos a nós próprios;)

Não nos deixes cair em tentação ― (e nós sabemos que os estados inferiores de consciência perdem seus atrativos para quem alcançou o mais elevado;)

Mas livra-nos do mal ― (pois desejamos apenas o que seja útil para avançar no caminho do aperfeiçoamento.).

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A calma leitura da oração acima pode, e deve, ser feita de várias formas sucessivas. 

Uma primeira é uma leitura corrida, como texto contínuo, incluindo tanto o Pai Nosso tradicional como os seus comentários.

Uma segunda é apenas ler apenas os comentários, como se eles fossem um texto independente, e consultando só eventualmente a linha correspondente do Pai Nosso para ver qual a relação com o texto principal.

Uma terceira leitura possível consiste em olhar novamente o texto total, fixando bem a sequência de conceitos e meditando sobre seu significado interior. O texto ampliado ensina a autonomia do aprendiz, e dá alguns elementos para que ele possa melhor colocar-se ― por mérito próprio, embora lenta e gradualmente ― em sintonia direta com as forças cósmicas.

Deste modo, o estudante percebe profundamente um significado novo e mais amplo do Pai Nosso. Agora esta oração é uma chave prática pela qual ele pode aumentar a sua ligação consciente com a comunidade ilimitada de inteligências divinas que constitui o universo.

NOTAS:

[1] Veja também Lucas, 11: 1-4.
[2] “The Theosophist”, Adyar, Madras, Índia, fevereiro 1885 (pp. 100-101) e março 1885 (pp. 128-129). A oração, especificamente, está na edição de março, p. 129.

Fonte AQUI

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