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segunda-feira, 11 de abril de 2011

A lei da recorrência

"...É necessário observar as pequenas
recorrências se processando
no dia-a-dia e começar a
transformação por elas..."



Desde os primórdios, o homem se pôs a observar a natureza para entender seu funcionamento e então poder intervir conscientemente sobre ela. Porém, nem sempre isso é tão simples. Por trás de qualquer fenômeno existe uma diversidade de leis atuando em conjunto, algumas ampliando e outras reduzindo os seus efeitos visíveis. Muitas leis sequer apresentam evidências de seus mecanismos, mostrando apenas seus resultados.

Felizmente, o ser humano possui muito mais do que os cinco sentidos para perceber a natureza. Nossos cinco sentidos (visão, audição, tato, olfato, paladar) são os instrumentos de percepção do que é físico. Mais além do que é físico, necessitamos perceber com outros sentidos, os quais muitas vezes não atribuímos valor algum.

O plano tridimensional (físico) é a manifestação densa de uma série de forças sutis que vibram na natureza em outras frequências. Todas essas dimensões sutis estão aqui e agora, coexistem com o mundo tridimensional (cada uma em sua frequência) e nelas se estabelecem comunicações tal qual no mundo físico, através de diversos sentidos internos que possuímos. Isso explica como conseguimos sentir se um ambiente está denso ou se uma pessoa está feliz ou triste. Faculdades como a clarividência, clariaudiência, intuição, recordação de vidas passadas, telepatia, o dom da magia, etc. correspondem a esses sentidos sutis que nos comunicam com as dimensões superiores. Além disso, existem práticas para vivenciarmos essas dimensões sutis, como o desdobramento astral e a meditação, entre outras.

Assim, o estudo das leis mais sutis da natureza, que determinam o fluxo invisível de ações que fazem a roda da vida girar, não dependem da análise dos cinco sentidos, mas das experiências vividas nas dimensões mais sutis, através de práticas como a meditação. A esse tipo de estudos chamamos de metafísica.

Neste artigo, vamos estudar uma das principais leis da natureza, que é a sua ciclicidade, chamada pelo mestre gnóstico Samael Aun Weor de recorrência. Tal lei determina o ritmo da criação. Cada vez que um ciclo se esgota, ele reinicia do ponto de partida, agregando-se a essa novo ciclo alguma variação resultante do ciclo anterior. Assim, o círculo da recorrência converte-se em uma espiral que, dependendo da energia acumulada no ciclo anterior, será mais elevada ou mais inferior.

Essa lei pode ser vista nos processos naturais, no ciclo das águas, dos ventos, na renovação da terra, nas estações, na energia da vida que move as plantas e animais. Também podemos perceber nos costumes, nas tradições, nos impérios, nos modismos e em geral na atuação humana.

Metafisicamente falando, a recorrência ocorre também na repetição das existências. Cada vez que uma existência se acaba, existe nela a potencialidade para repetir-se e isso dá origem às existências sucessivas. No gnosticismo, chamamos a esse processo de retorno e é uma forma particular de recorrência. O processo do retorno foi estudado pelas grandes tradições esotéricas, tanto do oriente quanto do ocidente, sendo chamada por inúmeros nomes, como transmigração das almas (hinduísmo), metempsicose (pitagóricos), etc.

Os fenômenos mais interessantes da recorrência, no entanto, se desenvolvem dentro de cada retorno. Samael Aun Weor compara a existência humana com um filme que ao seu término é guardado para repetir-se em uma outra ocasião (existência futura). Sua analogia tem a finalidade de enfatizar as inúmeras repetições que se processam a cada retorno, pois o filme não se modifica, não importando quantas vezes se assista a ele. Cada “eu psicológico” tem os seus compromissos firmados, a sua própria ciclicidade que busca cumprir-se nas mesmas etapas da vida, a cada nova existência. Essa repetição ocorre em ciclos maiores e ciclos menores, que vão desde a repetição rotineira, passando pelos erros “esporádicos” e indo até grandes acontecimentos, que se processam uma vez a cada existência.

A lei da recorrência sempre atua junto com a lei de ação e reação (karma), sendo esta última a determinante para modificar os eventos que tendem a se repetir. A lei da recorrência influencia os principais acontecimentos de nossa existência, como:

Família

Existe uma grande tendência que retornemos na semente de nossa própria descendência, pois a estrutura genética é mais propícia a desenvolver nossas recorrências, inclusive quanto a doenças. O dr. Thierry Janssen, no livro “A Solução Interior”, fala sobre as conclusões da pesquisa de Anne Ancelin Schutzenberger, que “(…) em certas famílias, um nascimento, um casamento, um aborto, uma doença ou a morte pode sobrevir na data ou no aniversário de um acontecimento marcante acontecido três, quatro, às vezes oito gerações antes. Essas constatações corroboram com as observações da psicóloga Joséphine Hilgard, que já em 1957 falava de ‘síndrome de aniversário’ ao descrever repetições estatisticamente significativas de acidentes e internações psiquiátricas em pacientes adultos, hospitalizados nos Estados Unidos com a mesma idade que um antepassado acidentado ou internado muitos anos antes”. O que a ciência trata como um fenômeno de uma memória ancestral herdada nada mais é que o resultado da lei da recorrência.

Profissão, habilidades e vocações

É natural que a pessoa se desenvolva nas mesmas áreas que já se desenvolveu em vidas passadas, ou nas áreas afins que vão surgindo à medida que a sociedade muda seus costumes e tecnologias disponíveis. Existem dois tipos de profissionais: os de forma e os de essência. Os de forma são os que aprendem o ofício e se limitam ao aprendizado, não tornando conscientes os princípios aprendidos, para que deles surjam novas análises e aprendizados. Essas pessoas depositam seus conhecimentos na memória e com a morte, tais conhecimentos se perdem. Já as pessoas que adquirem consciência dos aprendizados profissionais, saindo meramente dos conteúdos formais e penetrando na essência dos conhecimentos, transferiram o centro do conhecimento para a consciência e ao morrerem, carregam aqueles talentos de forma que, na existência seguinte, trarão os conhecimentos à tona de forma prodigiosa. Todas as pessoas que mostram algum talento nato são típicas deste segundo grupo.

Casamento

Pela mesma lei de recorrência, as pessoas vão se atraindo mutuamente até encontrar-se a cada existência, para repetir as suas vivências. Por isso, temos a tendência de casar com a mesma pessoa e ainda pela mesma idade que na vida anterior.

Amizades e inimizades

Os laços de amor e os laços de ódio produzem forças magnéticas de grande intensidade que fazem com que as pessoas se aproximem. Por isso, cada uma das grandes amizades que tivemos em existências passadas ressurgirão ao seu tempo, da mesma forma que os inimigos. E quanto maior for o amor (ou o ódio) que tenhamos por alguém, podemos ter a certeza de que mais próxima aquela pessoa estará em nossa vida.

Complexos, traumas e valores de caráter

Tudo que formamos dentro de nós nos acompanha, independente da existência em que nos encontramos. Se desenvolvemos valores conscientivos, estes seguem determinando nossa visão continuamente. Infelizmente, o mesmo ocorre com toda tipo de complexos, fobias e características destrutivas que geramos. Isso indica que, enquanto esses eus psicológicos continuarem existindo, vão gerar as mesmas circunstâncias, tal como um ator que aguarda nas coxias a “deixa” para entrar em cena e assim, existência após existência, continuamos repetindo os mesmos erros.

Acontecimentos marcantes

Na linha da vida, um a um dos acontecimentos mais significativos ficam marcados em nossos retornos, como tendências a se concretizarem. Não são imutáveis, apenas tendências que acontecerão se nada ocorrer de significativo para que aquilo se modifique. E como vimos na pesquisa de Joséphine Hilgard, até as idades (e muitas vezes as datas) tendem a repetir-se (de uma existência para outra, se considerarmos os casos citados como retornos). Mas isso não significa que tenhamos um destino imutável e só o que podemos fazer é esperar de braços cruzados por ele. Porém, uma tendência repetitiva gera inevitavelmente uma forte possibilidade de concretização, da mesma forma que uma pessoa que vive arrumando brigas, um dia vai acabar se machucando. No ditado popular se diz que “aquele que semeia ventos, colhe tempestades”. E disso podemos deduzir que, baseado na forma como pensamos e agimos hoje, no presente, estamos determinando os acontecimentos do resto de nossas vidas. Nossas decisões são o fruto de hábitos e crenças que foram nutridas ao longo de décadas (e por que não dizer milhares de anos, pensando nas diversas existências) e baseado nisso, podemos nos atrever a dizer que qualquer decisão de nossa vida já está tomada, bastando que aconteça o evento (que pode ocorrer amanhã ou daqui a cinquenta anos) para que tal decisão se verifique, a menos que aprendamos a gerar conscientemente novos padrões de pensamento e comportamento.

O (re)encontro com nosso caminho espiritual

Nossa busca espiritual (àqueles que buscam) não é de hoje. Também é um caminho há muito iniciado em alguma escola de mistérios da antiguidade e a cada existência, segundo o karma, produz seu reencontro.

O que podemos fazer para modificar as recorrências ruins?

Existem muitas recorrências maravilhosas e obviamente vamos querer repeti-las sempre. Porém existem recorrências tenebrosas, as quais precisamos criar mecanismos para cortar sua repetição. O que fazer então:

O mais urgente: acabar com o ódio

As recorrências que se geram através do ódio sempre são negativas. É urgente aprender a perdoar os inimigos e apagar esse tipo de feridas. Enquanto não se acabe com o ódio, sempre estaremos próximos dos inimigos que criamos e isso é o principal elemento pra fazer da nossa vida um inferno.

Também importante: aprender a observar-se

Precisamos desenvolver a capacidade de perceber nossas tendências (pensamentos, palavras, hábitos, emoções) e a que caminho nos levam. O grande diferencial do sábio frente às pessoas comuns é o talento para deter suas próprias emoções e pensamentos negativos antes que desencadeiem catástrofes. Mas antes de deter, temos que aprender a observar e discernir o potencial destrutivo que carregam. É necessário observar as pequenas recorrências se processando no dia-a-dia e começar a transformação por elas. Trabalhando nos pequenos detalhes, desconstruímos os alicerces que sustentam as grandes estruturas negativas. Somente quando eliminamos os eus psicológicos é que fazemos cessar as recorrências negativas que temos arrastado.

sábado, 26 de março de 2011

O bem e o mal


“O homem pode estar em tudo, sem ser vítima de nada”. (Samael Aun Weor)

Após compreendermos que existe um potencial imenso e inexplorado dentro de cada um de nós, surge a necessidade de começarmos a diagnosticar o que precisa ser trabalhado, polido, melhorado. Não se trata, como costuma-se pensar, de encontrar quais são nossas virtudes e quais são nossos defeitos, já que essa é uma visão muito superficial de nossas características. Quando pensamos em defeitos e virtudes, pensamos em coisas que sempre são ruins e outras que sempre são boas e isso é uma fantasia, uma forma sutil de autoengano. Mas para entender esse conceito, primeiro precisamos entender o que é o bem e o que é o mal.

Toda experiência que passamos nos traz sensações e percepções que, por último, se transformam em conceitos. Então, por exemplo, se comemos uma boa comida em um restaurante, dizemos que a comida de lá é boa; se uma pessoa é mordida por um cachorro, passa a qualificar os cães como perigosos e cria aversão a eles; se conhecemos alguém de uma nacionalidade, etnia, religião ou até mesmo um torcedor de um time de futebol que tenha uma característica peculiar, logo atribuímos a característica a todo o grupo, seja boa ou ruim. O que queremos dizer é que nosso cérebro tem por costume simplificar as experiências passadas para armazená-las na memória sob a forma de um rótulo, um conceito e a partir de então, não recordamos da experiência em si, com sua diversidade. É por isso que comumente, quando duas pessoas brigam, elas passam a recordar apenas das coisas ruins que o outro fez ou quando temos saudade de alguém, só nos lembramos dos momentos agradáveis.

O bem e o mal entram nesse mesmo rol de experiências simplificadas, ou seja, são conceitos que tentam resumir nossas experiências. Não podemos pensar que algo é sempre bom ou sempre mau, porque conforme o momento e a necessidade, são úteis ou inúteis, adequados ou não. Como dizia um grande mestre gnóstico, chamado Samael Aun Weor: “Bom é tudo que está no seu lugar; mau é tudo que está fora do lugar”. As coisas, quando são adequadas, tornam-se boas, como o fogo que prepara o alimento ou esquenta a casa em um dia de frio; já quando estão fora de lugar, tornam-se prejudiciais, como o mesmo fogo queimando uma floresta ou o calor em dia excessivamente quente.

O erro está em considerar as coisas ou as pessoas boas ou más, como se fosse um atributo delas e não da circunstância. Como nos dizem as tradições orientais, as coisas em si são vazias de atributos e somos nós que depositamos essas características nelas. No exemplo anteriormente citado, podemos dizer que o fogo em si é bom ou mau? E da mesma forma como estamos falando que nada em si carrega esses atributos, não podemos pensar que em nosso universo interior seria diferente.

Não quero dizer que não existam defeitos nem virtudes, mas quero neste momento evidenciar um uso inadequado destes termos. Geralmente atribuímos a características o rótulo de “defeito” ou “virtude”, como se a coisa em si fosse boa ou ruim. Por exemplo, crer que a paciência, a simplicidade e a veracidade são virtudes é desconsiderar que em muitas situações estas três se transformam em grandes empecilhos ao desenvolvimento do indivíduo. Um sujeito extremamente paciente pode acabar perdendo o momento propício à ação; o que seja simples, pode fechar os olhos para as coisas que necessitem de uma análise mais profunda e aquele que sempre falar a verdade criará situações desagradáveis no  convívio com outras pessoas. Imaginemos um rapaz indo na casa dos pais de sua namorada pela primeira vez para jantar e ao ser servido, a mãe da menina pergunta se ele gosta de tal comida ou se está gostosa. Caso o rapaz não goste daquele prato ou ache que a comida “deixa a desejar” e resolvesse falar o que pensa, seria extremamente desagradável e desrespeitoso, já que aquela família preparou de bom grado e da melhor forma de pôde aquele jantar e o mínimo que se pode fazer em tal situação é ser gentil.

Quando olhamos para dentro devemos aprender a ver características que, ao ser aperfeiçoadas, se tornarão virtudes. A característica, em sua forma crua, desprovida de treinamento, é tão somente uma característica, que a pessoa expressa quando é o momento certo e quando é o momento errado. Uma pessoa calada, por exemplo, se cala no momento que deve calar e cala no momento em que deve falar. Como podemos pensar que isso é uma virtude ou um defeito, se produz resultados de acordo com o que a vida lhe proporciona e não de acordo com o que ela quer conseguir?

Para que uma característica se transforme em virtude, é necessário treinamento. E o treinamento é no sentido de aprender a usar e aprender a não usar a característica. Só quando pudermos dispor de algo é que podemos considerar que adquirimos uma virtude e esta não se encontra na característica, mas na capacidade de utilizá-la de forma útil.

Da mesma forma são os defeitos. Podemos dizer que não são as características em si, mas a forma doentia como aplicamos um determinado padrão de comportamento, ainda que vez ou outra essa forma obcecada produza resultados positivos, igualmente é um defeito, porque faz mal à pessoa, a torna cega e inflexível. Vejam que não é a característica que é o defeito em si, mas a forma como não sabemos lidar com aquele impulso e o convertemos em uma obsessão.

Resumindo, só existe uma virtude e só existe um defeito. A virtude é aprender a manejar e dispor de nossas características, com discernimento e lucidez. E o defeito é tornar aquele padrão inflexível e doentio (que é basicamente a forma como lidamos com todas as nossas características). Em síntese, a solução é compreender as palavras do mestre gnóstico Samael Aun Weor, quando diz que “o homem pode estar em tudo, sem ser vítima de nada”. Aquele que realizar essa frase, desenvolverá o poder da virtude.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O nosso ponto de partida

"Na natureza tudo tem seu oposto,
porém o caminho da Sabedoria
é encontrar o ponto de equilíbrio
entre todas as coisas"
Para transformarmos o que somos (ou melhor, o que achamos que somos) existem muitos pontos a serem refletidos, como a motivação, o ritmo de trabalho e a metodologia que vamos adotar. Exatamente como qualquer outro empreendimento. Existe uma finalidade, um objetivo a ser alcançado e uma motivação que sustenta essa busca. É comum que as pessoas confundam aprender a viver o momento sem criar espectativas (que é algo a ser conquistado) com viver sem objetivos a serem alcançados, o que seria algo prejudicial em nosso próprio caminho, pois, como diz o I Ching (um dos livros sagrados dos chineses) em quase todos os seus aforismos: “É favorável ter onde ir”.
Quem caminha sem rumo desanima e tanto faz o lugar em que chegou. Quando uma pessoa está comprometida com o seu aperfeiçoamento interior, precisa assumir o risco desse empreendimento e utilizar todas as ferramentas possíveis para alcançá-lo, mesmo que mais adiante essas mesmas ferramentas terão que ser descartadas, porque já começam a atrapalhar. Mas no início, são fundamentais.

Muitas escolas de autoconhecimento enfatizam a importância de adquirir determinadas características, como se fossem virtudes próprias de quem está avançando nesse caminho. Só que nessa abordagem, algumas pessoas aparentemente saem com uma certa “vantagem”, porque já possuem aquelas características. Por exemplo, muitas escolas enfatizam a disciplina como um elemento extremamente favorável para o desenvolvimento interior. Ou seja, elevam a característica da disciplina ao status de “virtude da disciplina”. E existem pessoas que tem uma facilidade, de seguir algo a que se determinaram, mas nem por isso significa dizer que estão melhores que as demais, já que os seus problemas repousam em outras áreas, como por exemplo a flexibilidade e a adaptabilidade.

A natureza humana se compõe de características complementares, que no geral são inversamente proporcionais entre si. Isso significa dizer que o que temos em abundância de um lado produz uma carência do outro. É como se tivéssemos uma corda que precisa ser engatada em dois ganchos, em cantos opostos da sala; só que a corda é curta e só temos como engatar em um lado. Esse é o padrão inicial que temos, a nossa “configuração de fábrica”; daí pra frente, temos que aprender a desengatar a corda de um lado e engatar no outro, sempre que for preciso.

Por exemplo, as pessoas que são criativas, geralmente tem grandes dificuldades com a disciplina. Quanto mais criativo, mais desorganizado se é. É quase uma regra geral (salvo as pessoas que aprenderam a equilibrar isso). E o mesmo se aplica a quem é disciplinado, cumpridor de seus deveres e organizado. São pessoas que, se as coisas fogem do “script”, ficam perdidas, porque não sabem improvisar. Da mesma forma vamos encontrar os indivíduos mais instrospectivos, que tem grandes dificuldades de se relacionar com o mundo. Já os extrovertidos, tem grande dificuldade de ficar a sós consigo mesmos e por isso estão sempre procurando alguma coisa pra fazer, a fim de não dar espaço para olhar para dentro. Quem é inseguro, tem dificuldade de tomar uma decisão rápida; quem é impulsivo, tem dificuldade de medir os riscos; quem é muito sorridente e otimista tem dificuldade de olhar para o lado ruim das coisas; quem é mais pé-no-chão e sóbrio, tem grande dificuldade de olhar as coisas de uma perspectiva mais leve. Quem é ansioso, não consegue relaxar; quem é demasiadamente descansado, não consegue fazer as coisas acontecerem… e assim por diante. Como dizer que alguma destas características citadas nos deixa em maior vantagem que o seu complemento? Na verdade, precisamos de todas elas, para utilizar cada uma no momento que for adequado. Essa capacidade de dispor ou não de uma característica, conforme havíamos falado antes, é o que chamamos de Virtude. Enquanto não temos essa habilidade, não possuímos virtudes e sim um monte de coisas que estão sobrando e outras tantas que estão faltando.

Agora imaginem uma pessoa que tem uma característica que é exaltada dentro de uma ideologia. É inevitável ela olhar pra si e pensar que então ela está muito bem. E nessas condições, acaba ficando cega pra tudo que ela não tem, porque essas coisas parecem ser menos importantes que aquilo que ela já possui. Por isso, não é adequado falarmos de características que serão úteis, pois ao seu tempo, no local e momento apropriado, todas serão úteis.

"Se o ponto de partida depende de onde estamos, mesmo que o ponto de chegada
seja o mesmo para todos,
o caminho já não é o mesmo"


Então, o mais importante é não ter características tão marcantes e sim conseguir equilibrá-las com as características complementares. Como escreveu Confúcio: “O homem que transformar seus pontos fracos em pontos fortes se tornará invencível.” Porém como fortalecer um ponto fraco, se o ponto forte não deixa aquilo crescer, já que estamos falando de coisas opostas? Matematicamente, se temos um conjunto de 100% (que no nosso caso, é a soma de duas características complementares), como aumentar um lado sem tirar do outro? Não podemos aumentar o que está em 15% e passá-lo para 50% sem reduzir o que era 85% para 50%. Mas e como isso se aplica na prática? Uma das técnicas para chegar a esse resultado é o que chamamos de transvalorização, ou seja, a mudança dos valores. Obviamente, este é um assunto que merece um estudo detalhado e então será estudado na sequência, através de vários artigos, pois ainda estamos “introduzindo” o assunto do autoconhecimento. Mas, em síntese, aplicamos a transvalorização quando aprendemos a tirar um pouco do valor no que temos sobrando e começamos a aplicar naquilo que nos falta. Ou seja, trata-se de um processo de reeducação, que começa através da conscientização da necessidade de mudar, que vai sendo nutrida diariamente, para que não definhe e volte ao padrão anterior. Essa reeducação, quando aliada a técnicas como a reflexão, a reconstrução de situações vividas e a visualização de uma nova postura frente a essas situações, vai gerando uma alteração de nossas sinapses, fazendo com que o padrão anterior perca um pouco da sua postura inflexível e vá abrindo espaço para o desenvolvimento de sua característica complementar, até o ponto em que podemos optar que atitude tomar em cada situação, por não estarmos mais condicionados a ter que agir segundo um padrão pré-estabelecido dentro de nós.

Agora, pensemos: antes de fazer essa reeducação, quem pode afirmar que exerce o seu livre-arbítrio? Enquanto estivermos presos a uma característica, somos vítimas dela.
Para concluir, vamos voltar à questão proposta no início. Qual é o nosso ponto de partida? O que temos que mudar? Qual é o caminho a seguir? Você não pode ter essas respostas sem primeiro saber onde você está. Por exemplo, se uma pessoa disser que o caminho para chegar a Curitiba é ir sempre em direção ao nascer do sol, vai ser bem difícil que alguém que esteja em Florianópolis consiga chegar nesse local, não é mesmo? Portanto, não pensemos que o autoconhecimento é uma sequência de ações matemáticas, como quem faz um bolo seguindo uma receita. É um caminho onde só se conhece o passo seguinte entendendo em que posição estamos e onde queremos chegar.

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