O planeta Mercúrio é coadjuvante no sistema solar. Nem tão badalado quanto o vizinho Marte ou Saturno e seus aneis, Mercúrio possui ainda um empecilho geográfico que o impede de ser mais conhecido por nós: em virtude de ser o planeta mais próximo do sol, tem sido difícil estudá-lo ao longo dos séculos.
Telescópios têm de lidar com o brilho do sol, enquanto as sondas espaciais – puxadas pela gravidade do sol – precisam gastar muito combustível para retardar sua velocidade e conseguir mais dados do que uma simples fotografia borrada. Tudo isso contribui para que tenhamos várias dúvidas sobre esse planeta.
Mercurio visto pela sonda norte-americana Mariner 10 no dia 29 de março de 1974.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University/APL/JPL
Porém, o estabelecimento da nave Messenger no planeta, em março deste ano, pode ajudar a responder alguns desses mistérios. Confira:
Alta densidade
Mercúrio é o segundo planeta mais denso do sistema solar, apenas um pouco atrás da Terra. Os cientistas acreditam que Mercúrio tenha um núcleo gigante, o correspondente a dois terços de sua massa. Na Terra, o núcleo corresponde a apenas um terço.
De acordo com Sean Solomon, principal investigador da missão Messenger, a origem da densidade é antiga. “Colisões entre corpos rochosos no início da história do sistema solar provavelmente derrubaram algumas das camadas externas menos densas de Mercúrio, deixando apenas o material pesado”, explica. Análises químicas feitas pelo Messenger da superfície de Mercúrio – que serão divulgadas em breve – deve confirmar (ou não) essa teoria.
Proteção magnética
Além da Terra, Mercúrio é o único outro planeta do sistema solar de interior rochoso a ter um forte campo magnético (embora possua apenas cerca de 1% da força de Terra). A existência de um campo magnético não é uma questão trivial planetária – o nosso nos protege contra a radiação prejudicial do sol. Solomon descreve o campo magnético da Terra como “o nosso guarda-chuva contra a radiação”, sem o qual seria muito difícil o desenvolvimento ou a manutenção da vida.
Os investigadores acreditam que o campo magnético de Mercúrio é gerado pelo mesmo processo que o da Terra. A sonda Messenger irá mapear a geometria do campo em detalhes, o que deve ajudar os cientistas a precisar a sua origem.
Foto satélite Messenger em março 2011. Crédito Nasa
Mercúrio congelado?
O tórrido planeta não é o último lugar onde você pensaria em procurar gelo, certo? Pois algumas crateras nos polos de Mercúrio parecem discordar. Elas estão em uma sombra permanente, onde a temperatura pode chegar a menos 170 graus Celsius.
“Essas armadilhas congeladas e profundas podem conter muito mais gelo do que os depósitos encontrados na lua”, compara Solomon. Isso significa que, no sistema solar, a água está em toda parte, pelo menos como molécula”, diz.
Atmosfera renovável
Embora seja o menor planeta e, portanto, possua pouca gravidade, Mercúrio tem uma atmosfera, ainda que não muito consolidada. O que é ainda mais estranho é o fato de que os gases que compõem essa atmosfera estão escapando do planeta.
Foto satélite Messenger em março 2011. Crédito Nasa
“De alguma forma, o ambiente de Mercúrio tem de ser constantemente renovado”, explica Solomon. Os cientistas acreditam que o material capturado a partir do “vento solar”, a corrente de partículas que saem do sol, contribui para esse fenômeno, bem como a poeira levantada pelo impacto de micrometeoritos.
Causa do Juízo Final?
Mercúrio já tem a órbita mais excêntrica (meio oval, em termos astronômicos) de todos os planetas do nosso sistema solar. Simulações computacionais recentes mostram que, ao longo de alguns bilhões de anos, essa órbita pode se tornar ainda mais excêntrica e Mercúrio teria 1% de chance de colidir com Vênus ou com o sol.
Mais preocupante que isso é a probabilidade de a órbita caótica de Mercúrio perturbar as órbitas dos planetas de tal forma que Mercúrio, Vênus ou Marte podem colidir contra a Terra – um cataclismo de proporções verdadeiramente apocalípticas.
Foto satélite Messenger em março 2011. Crédito Nasa