Transcriação da palestra A animagogia e a ilusão da morte
PARTE I
por Adilson Marques
Existe um conto indiano que narra a seguinte história:
Um discípulo procura o seu mestre e lhe pergunta:
_ mestre, qual é o seu segredo para nunca se enfurecer e ser sempre amável?
E o mestre lhe respondeu:
_ não sei se posso falar sobre o meu segredo, mas eu sei qual é o seu...
E o discípulo curioso, perguntou:
_ e qual é o meu segredo?
Compenetrado, o mestre disse: você vai morrer em uma semana.
Assustado com as palavras do mestre, o discípulo procurou, na semana seguinte, tratar os amigos e os familiares com muita afeição e, no sétimo dia, deitou-se em sua cama e pediu que chamassem o seu mestre.
Quando este chegou, o discípulo lhe disse: “abençoe-me, sábio mestre, pois estou morrendo”.
Após abençoar o discípulo, o mestre lhe perguntou: “e como você passou a semana? Brigou com a família, com os amigos?”
E o discípulo lhe respondeu: “obviamente que não. Eu os amei intensamente.”
Após ouvir isso, o mestre lhe falou: você acabou de descobrir o meu segredo. Eu sei que posso morrer a qualquer momento, por isso, procuro ser sempre amável com todas as pessoas de minhas relações.”
Curiosamente, muitas pessoas que passam por experiências radicais, como são as experiências de quase morte (EQM), mudam profundamente sua forma de viver, passando a amar e a valorizar muito mais seus familiares, o meio ambiente e as demais pessoas com as quais se relaciona. Essa mudança de sensibilidade é conhecida como metanóia, na qual uma atitude egoísta diante dos fatos é substituída por uma atitude amorosa.
O egoísmo é fruto, basicamente, do medo da morte. E a maioria das pessoas teme a morte porque possui uma consciência equivocada, acreditando que a morte é o oposto da vida. Mas, na verdade, o que se opõem à morte é o nascimento.
A vida está além da morte e do nascimento. Ela antecede o nascimento e continua além da morte. O que nós conhecemos por vida é apenas um de seus ciclos, formado por um nascimento e uma morte. Vamos, nesse encontro, chamar esse ciclo de existência.
O egoísmo se alimenta do medo da morte e vice-versa. Todos nós queremos permanecer vivos e como acreditamos que a morte é o oposto da vida, temos medo de morrer e lutamos arduamente por aquilo que acreditamos ser a vida: a matéria. Acumulando bens materiais, buscando a felicidade no consumo ou na posse de outras pessoas, acreditamos que isso nos faz vivos e nos afasta da morte.
Todos desejam viver eternamente. E é justamente isso o que acontece. A vida é realmente eterna. Apenas cada existência, ou seja, cada ciclo de nascimento e morte, é finito.
Em nossa palestra, vamos falar sobre a morte, mas não do ponto de vista das religiões, e sim, da ciência não-oficial, ou seja, daquela que ainda é marginal no meio acadêmico, sobretudo no Brasil, e que já aceita a hipótese da continuidade da vida após a morte física.
Aliás, evidências desse fato podem ser encontradas ao longo da história e nas mais diferentes civilizações. Apesar de muitos católicos ou evangélicos negarem o chamado intercâmbio com os seres incorpóreos, esse fato é registrado inclusive, na Bíblia, no livro II de Samuel, no qual o ex-rei Saul conversa com o espírito de Samuel através da intermediação de uma pitonisa, nome que identificava as médiuns ou sensitivas naquele contexto cultural.
A psicologia transpessoal, por exemplo, estuda cientificamente esses registros de comunicação com os seres incorpóreos. Além desse fato, ela estuda também as chamadas EQM (experiências de quase morte), as projeções astrais (que são saídas conscientes do corpo físico e a locomoção tanto pelo espaço material como naquele chamado de astral) e as experiências de regressão de memória às vidas passadas.
Todos esses fenômenos humanos, que nenhuma relação possuem com as religiões, fornecem evidências de que a vida não se extingue com a morte física. A maior parte das pessoas que passa por tais experiências diz perder o medo da morte e, o que é mais importante: passa a valorizar ainda mais a experiência na Terra, ou seja, a sua existência neste mundo material. Ao invés da apatia, da melancolia e do hedonismo, essas pessoas afirmam que passaram a dar mais atenção à família, deixaram de brigar por picuinhas, cuidam com mais amor do meio ambiente e dos animais, entre outras coisas. Em suma, amam mais e são mais felizes, sem tantas ambições ou desesperos, assim como o mestre da história indiana que contamos no inicio da palestra. É como se tomassem consciência de que o mundo após a morte é o real, o verdadeiro lar e que este que vivenciamos atualmente é uma passagem ou uma realidade impermanente, onde não estamos por acaso, mas para aprender uma lição: aprender a colocar em prática o amor e a felicidade incondicional.
Curiosamente, essa consciência que nasce a partir dessas experiências vividas vem ao encontro das descobertas cientificas atuais. De fato, o mundo material parece ser uma grande ficção, pois tudo o que chamamos de matéria não passa, em sua essência, de bilhões e bilhões de átomos, onde o que mais existe é vazio e não matéria, como podemos ver nessas ilustrações que nos ajudam a compreender porque esse mundo que vivenciamos não é o real.
Vamos imaginar que somos físicos quânticos estudando o interior da matéria. Então, vamos entrar dentro da matéria até chegarmos nos átomos e, em seguida, vamos entrar dentro deles e dentro de seus núcleos para ver o que vamos encontrar.
Comecemos por essa bola de basquete. Vamos entrar dentro dela. Essas bolas brancas são os átomos, a menor parte de qualquer objeto material, seja o nosso corpo físico, a bola de basquete ou até mesmo as paredes que nos envolvem. Em suma, toda a matéria é formada por átomos.
Agora, vamos entrar dentro dos átomos. Eles que pareciam sólidos, agora vão se transformando em algo parecido com nuvens. E essas luzes brancas são os elétrons que circulam em torno do núcleo a uma velocidade de aproximadamente 940 km/s. Observem a semelhança com o sistema solar. Aqui, os planetas giram em torno do sol. No átomo, são os elétrons que giram em torno de um núcleo. Mas em ambos os casos, e respeitando suas respectivas escalas, o que mais existe dentro deles é o vazio.
Vamos imaginar como seria uma foto de um átomo, congelando os elétrons. Nesta imagem, podemos ver o núcleo do átomo, que é esse ponto amarelo e as posições em que cada elétron se encontra. Observem como dentro de cada átomo existe muito mais área vazia do que ocupada por matéria.
Em suma, todo e qualquer corpo material é apenas isso: Bilhões de átomos que, por sua vez, são formados por bilhões de pequenos núcleos e elétrons circulando no entorno destes. Mas será que o núcleo do átomo é a menor parte da matéria? Os físicos quânticos, ao estudá-lo, descobriram que dentro dele só há energia. A partir dessa descoberta concluíram que, na essência, a matéria não existe. Pois tudo o que chamamos de matéria deriva de uma mesma fonte energética. Tudo é feito de energia.
Essa conclusão vem ao encontro das sabedorias milenares do Oriente, que sempre afirmaram que a matéria é uma grande ilusão. Mas por que ao invés de átomos e elétrons nós enxergamos e nos relacionamos com mesas, cadeiras, árvores, corpos físicos e outros objetos materiais?
PARTE II
A resposta nós vamos encontrar nos estudos atuais sobre o cérebro. Apesar dele, na essência, também ser um aglomerado de átomos e elétrons, ele tem para os seres humanos e para os demais animais um papel muito importante. É ele que transforma as diferentes ondas visuais e as demais ondas captadas pelos sentidos em formas materiais, em percepções e em sensações.
Assim, tudo aquilo que chamamos de realidade não passa de uma imagem e de percepções formadas pelo cérebro a partir de diferentes ondas energéticas captadas pelos sentidos.
Vamos compreender como o cérebro cria a imagem de um pequeno recipiente com frutas. As ondas luminosas chamadas de fóton partem do objeto e atingem o cristalino do olho e, em seguida, são focadas na retina. Depois, elas se transformam em pulsos elétricos que seguem por nervos e neurônios até uma área especifica do cérebro onde a imagem será criada. Neste outro exemplo, podemos ver a imagem da vela criada dentro do cérebro daquela pessoa. O cérebro é o instrumento que fará a decodificação daquele monte de átomos para podermos enxergá-los na forma de vela.
E isso acontece não só com as percepções visuais, mas com todas e quaisquer percepções. O olfato, a audição, o paladar e o tato também são criados pelo cérebro. O papel dos sentidos é o de captar as ondas energéticas que estão no ambiente, enquanto o cérebro os decodifica em formas materiais, em percepções e em sensações.
Vamos usar um outro exemplo para esclarecer. Alguém consegue ver as ondas emitidas pela TV globo ou pelas outras emissoras de televisão? Não. Porém, essas ondas estão circulando aqui dentro e se ligarmos uma televisão com uma antena, nesse exato momento, será possível captar essas ondas e transformá-las em imagens e em sons audíveis. A antena funciona de forma similar aos nossos sentidos e a televisão de forma similar ao nosso cérebro.
Mas se você ainda não se convenceu que a realidade não passa de ondas e energias, acreditando que real é tudo aquilo que pode ser visto e sentido, eu lhe pergunto: o sonho é real? Nele também não vemos formas materiais e não temos percepções e sensações? Como tudo isso é criado? Enquanto estamos vivenciando um sonho, nós temos consciência que estamos sonhando ou somente ao acordarmos é que podemos afirmar que sonhamos?
Em suma, tanto a experiência vivenciada durante o sonho como essa experiência que chamamos de realidade apenas existem dentro do nosso cérebro. Não há diferença alguma entre elas. Por isso, podemos fazer a seguinte analogia. A Morte é similar ao despertar de um sonho. Quando acordamos, tomamos consciência que tudo aquilo que vivenciamos durante o período em que estávamos deitados em uma cama era um sonho. Assim será ao morrermos. Gradativamente vamos tomar consciência que tudo aquilo que vivenciamos quando estávamos ligados ao cérebro e ao corpo físico foi mais uma existência humana que se encerrou.
Em suma, o que chamamos de morte é apenas o desligamento de nossa consciência daquelas imagens e percepções criadas pelo cérebro. Por isso falamos que a morte não é o oposto da vida, mas o oposto do nascimento.
Em linhas gerais, o que apresentei para vocês é o trabalho que realizo sob o nome de Animagogia. Através de uma abordagem cientifica e possibilitando experiências enriquecedoras ao participante, a Animagogia é uma forma de educação que visa despertar o ser humano para a vida eterna, para que ele possa superar a consciência da finitude.e também, o que é mais importante, a dor advinda por uma falsa consciência.
Vou terminar essa fala com uma frase que li, mas não me recordo o autor:
"Lembre-se que a dor é um mero alerta,
não redime, não expurga nem resgata nada,
apenas indica que algo está errado conosco,
para que tomemos uma atitude."
Podemos dizer que o momento em que sentiremos uma dor (e aqui não me refiro apenas à dor física, mas também as dores morais, da consciência, da perda de um ente querido etc.) já estava escrito. Não pelo fato de tudo estar programado nos mínimos detalhes por Deus, mas porque nos desviamos de uma rota de luz e amor traçada por Deus. Assim, quando "saímos dos trilhos", recebemos um alerta. Porém, esse alerta, no caso, a dor, é apenas um sinal. Muitas pessoas dizem que devemos amar a dor, outras que devemos imaginar que a dor é uma punição ou castigo de Deus e outras dizem que ela nem existe, que é uma ilusão. Porém, a dor, como afirma o autor acima, é um sinal para que busquemos aquilo que está errado em nós. É o momento de parar e ver se não estamos sendo injusto com outras pessoas, se não estamos deixando de amar, de perdoar etc. Como diz o autor, é necessário tomar uma atitude. E, por atitude, entendemos uma ação interior, uma ação sentimental.
Assim, é hora de abandonar a atitude egoísta por uma amorosa; abandonar a atitude de passividade por uma pacífica; abandonar a atitude de desespero por uma de esperança. A metanóia, ou seja, a mudança de sensibilidade, faz com que a dor desapareça como por encanto. Mude sua atitude, mas não se conforme à dor.
Ela é apenas um sinal que Deus amorosamente permite que você sinta para mudar o rumo de sua vida. E a dor da perda de um ente querido também é um alerta. Quando compreendermos que não perdemos ninguém e que a vida não se extingue com a morte física, a dor desaparece. Podemos, obviamente, sentir saudade daquele que retornou para o verdadeiro lar, como sentimos de um filho que vai estudar no exterior ou que se casa e vai morar em outra cidade, mas não mais aquela dor, aquela tristeza ou aquele desespero que nos afligia a alma quando ainda temíamos a morte, por não compreendê-la e aceitá-la plenamente.
Para encerrar, observe esse quadro e me diga: quantas bolinhas pretas existem nele? As bolinhas pretas são a morte. Observem que não existem pontos pretos. Eles são uma ilusão criada pelo seu cérebro. Em suma, o mesmo acontece com a morte. É apenas uma ilusão criada em seu cérebro...