Um dos grandes problemas das instituições religiosas é separar o homem de Deus, da consciência universal, da criação ou seja lá o nome que lhe for preferencial. Ao tornar a essência de tudo alheia ao ser humano, as religiões colocam algemas em suas mãos e uma venda em seus olhos, impedindo-o de reconhecer o que está presente em seu interior.
Assim, tudo aquilo que lhe acontece ou poderá acontecer é sempre atribuido ao externo, ou a Deus.
"Se Deus quiser", "Graças a Deus", "Vá com Deus" e "Só Deus Mesmo" são algumas das expressões já impregnadas na sociedade cristianizada. Todavia, ninguém que as fala realmente medita a respeito do que significam em um nível profundo. Tudo é dito de forma compulsória.
Mas qualquer expressão que use do conceito de Deus diz respeito à própria pessoa. Porém, a inconsciência desse fato faz com que ela se sinta impotente, pois o poder, todo o seu poder, é transferido para o exterior.
Pois Deus não é uma pessoa, não é um ser, não é algo intelectualmente interpretável. Deus é a própria criação e nós somos parte dessa criação. De fato, somos Deus observando a si mesmo de determinado ponto de vista, o nosso ponto de vista. Portanto, quando atribuímos a Deus (se o interpretarmos como uma realidade externa) algo que é de nossa própria autoria, estamos aceitando nosso atual estado de animalidade. É aqui que a estagnação (que já acontece há séculos) começa a ocorrer e nos tornamos mais dependentes da matéria.
Quando isso ocorre, deixamos a Unidade e criamos a ilusão do falso eu; uma existência alheia ao próprio universo. Esse falso eu é o que governa o mundo moderno, e como se diz alheio à própria criação, é a única forma de existência que vai contra à natureza, contra o fluxo da vida e contra a abundância.
Apenas o homem é triste, apenas o homem mata conscientemente um semelhante, apenas o homem abdica do próprio poder. Quando o falso eu está no controle, ele distorce a naturalidade da existência.
Mas mesmo na presença dessa sombra, em essência o homem ainda é parte da consciência universal, ele ainda é Deus. E demonstra isso dia após dia de maneira criativa. Todavia é quando o poder transcende a própria materialidade que vemos a divindade em toda a sua expressão.
Cada doença curada, cada sonho realizado, cada feito dito impossível, cada superação, cada criação excelsa, cada ação que demonstra a genialidade é um fator Divino. E ele existe em cada pessoa.
Todos os ditos milagres que acontecem na realidade de alguém não são obras de Deus, mas sim da própria pessoa. A criação e a vida já são os milagres de Deus, mas aquilo que acontece em nossa faixa de realidade só diz respeito a nós, pois nós somos Deus, somos partículas do todo.
Quando digo "Deus não faz milagre, você faz" é para evitar a referência a um ser superior, porém limitado. Uma vez que Deus, como algo subjetivo, faz milagres, você sendo Deus também o faz, e vice-versa.
É preciso então parar de querer interpretar o conceito da criação, de Deus, de maneira puramente intelectual, do contrário ele sempre será externo. Deus só pode ser compreendido quando experienciado de maneira profunda e desprendida, pois só assim podemos voltar a fazer parte do todo, mesmo que de forma passageira.
Apenas alcançando um estado de Nirvana, em que o ego deixa de estar presente e tudo o que há é a Unidade sem personificação, é que se pode compreender o que é Deus.
Então você percebe que Deus não faz milagre, você o faz, pois você é Deus.
Por Marcos Keld
Fonte: Livro Potencialidade Pura (do próprio autor)
Excelente definição de Deus e o milagre. Sempre pensei dessa forma, mas nunca havia lido algo conciso e fazer que o ser humano mais se valorize e entenda o seu valor como ser.
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